No dia 18 de outubro de 2019, foi realizado uma Mesada de Anjos, uma prática tradicional quilombola, na comunidade do Ribeirão Grande-Terra Seca. Além das crianças da própria comunidade e das comunidades ao redor, participaram crianças do 1º ano do ensino fundamental da EMEF Profª Maria Izabel e da educação infantil EMEI Profª Maria Aleixo de Queiroz, totalizando ao todo 30 “anjinhos” como intermediadores simbólicos entre a comunidade e o sagrado.
Os anjinhos são as crianças menores de 7 anos, quilombolas ou não, que são entendidas como seres sem pecado, isto é, seres inocentes que, devido a tal característica ontológica, possuem um contato forte e íntimo com o sagrado. Por esta razão, tais crianças funcionam como mediadoras entre a comunidade e o santo, transmitindo a oferenda da primeira ao último através da sua própria alimentação. A lógica da Mesada de Anjos alicerça-se em três elementos no decorrer da sua realização: a promessa, os anjos e o banquete aos anjos.
Em um cenário social onde a assistência médica sempre foi esparsa, as estratégias medicinais e terapêuticas desenvolvidas pelas comunidades quilombolas partem do conhecimento da mata, das suas ervas e plantas e das suas possibilidades de cura frente a diferentes doenças e problemas à saúde.
Partindo de uma perspectiva antropológica, a formação desse conhecimento encontra-se imbricado em concepções sagradas e religiosas, que produzem a confluência de distintas dimensões da realidade (a espiritual e a natural) em uma inteligibilidade única e indissociável. Contígua ao manejo das ervas para objetivos terapêuticos, a promessa é realizada à algum santo (aquele de maior proximidade ao locutor da promessa), como um pedido para que a entidade intervenha com seus poderes na comunidade e cure um membro em estado de enfermidade.